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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Engenharia de Usabilidade

Você já encontrou alguém que vai ser usuário de seu projeto atual? Você já falou com ele? Visitou o seu ambiente de trabalho e observou o que é sua tarefa, quais são suas estratégias e com que circunstâncias práticas ele tem que lidar para realizá-la? Atividades simples como estas formam a base da engenharia de usabilidade. Embora existam métodos mais avançados, uma pequena visita ao "terreno" para observar os usuários em seu próprio ambiente de trabalho no mundo real irá proporcionar  uma variedade de descobertas sobre a usabilidade do novo sistema.

Três visitas de um dia aos escritórios de uma companhia de seguros de médio porte produziu uma lista de 130 problemas de usabilidade (Nilesen, 1990). A maioria dos problemas eram simples de resolver, uma vez que tivessem sido identificados, e eram sérios apenas para usuários novatos. Entretanto, estimou-se que usuários experimentados gastavam 10 minutos por dia tratando as consequências de problemas de usabilidade, custando a companhia somas importantes, tanto em horas trabalhadas, como em oportunidades perdidas. Em poucas palavras, alguns subsistemas não permitiam a interrupção da interação, embora a equipe fosse frequentemente interrompida devido a telefonemas e a necessidade de atender clientes. Em conseqüência, os operadores deixavam de atender telefonemas ou deixavam de operar o sistema em horas de pico de demanda. Outro problema se referia a mensagens de erro truncadas devido ao espaço reduzido de uma linha para apresenta-las. A mensagem completa está disponível por meio da tecla F1, uma ação natural para os desenvolvedores, mas improvável para os operadores reais, que gastavam seu tempo tentando entender a mensagem truncada. Bastaria uma indicação adicional " Tecle F1 para maiores informações" associada a mensagem de erro.
Existem diversos exemplos bem documentados de economia de custos pelo emprego de métodos de engenharia de usabilidade:
-         Quando uma roteadora telefônica foi testada inicialmente, os usuários acharam a ação de discar um número, um tanto custosa. Um especialista em usabilidade gastou meia hora para produzir um simples elemento gráfico de interface capaz de agilizar as ações do usuário  em 0,15 segundos por dígito, o que representou um economia anual de aproximadamente US $ 1.000.000,00 [Karlim & Flemmer, 1989]
-         Uma companhia de seguros australiana teve uma economia anual de A$ 536.023,00 ao reprojetar seus formulários de entrada de dados, de modo a tornar os erros dos consumidores menos prováveis. O custo do reprojeto de usabilidade foi de A$ 100.000,00. Os formulários antigos eram tão difíceis de preencher que ocasionavam em média 7,8 erros por formulário, o que representava um esforço de uma hora da equipe da empresa para reparar os erros de preenchimento. [Fisher & Sless, 1990]

Infelizmente, as economias de custo devido a melhoras de usabilidade não são sempre tão visíveis para os desenvolvedores, assim como os pequenos benefícios espalhados entre muitos usuários.

Por outro lado, casos em que melhorias de usabilidade repercutiram em aumento de vendas não têm sido documentados, o que não impede de constatar que vendedores especializados frequentemente recomendam produtos com base em sua melhor usabilidade.

Estudos de usabilidade podem ser conduzidos rapidamente e com pequenos orçamentos. Por exemplo, Bailey (1991) cita um estudo em que se gastou 5 horas e meia de trabalho para constatar que cores em um menu poderiam ajudar os usuários em certas ações de seleção. Uma equipe de desenvolvedores poderia facilmente gastar mais do que isto em reuniões para de discutir este aspecto do que resolve-lo por um teste simples.

Um estudo sobre estimativas em engenharia de software mostrou que 63% dos grandes projetos ultrapassam significativamente seus orçamentos [Lederer & Prasad, 1992]. Quando questionados para explicar suas estimativas incorretas, os gerentes citaram 24 diferentes razões, sendo que as 4 consideradas como mais importantes estão associadas a engenharia de usabilidade: frequentes solicitações de alterações pelos usuários; falta de conhecimento da tarefa; falta de entendimento dos usuários sobre seus próprios requisitos, e problemas na comunicação analista-usuário. Uma metodologia de engenharia de usabilidade adequada poderia prevenir muitos de tais problemas e assim reduzir os custos de projetos estourados no tempo.

Em janeiro de 1993, eu acompanhei 31 projetos que envolviam atividades de engenharia de usabilidade, para descobrir quanto de seu orçamento foi gasto com usabilidade. Os participantes foram também solicitados a estimar um orçamento ideal para esta rubrica. Os resultados mostraram que a usabilidade gasta cerca de 6%¨de seus orçamentos e que o orçamento ideal com esta rubrica deveria ser de 10%. Se três grande projetos fossem excluídos da análise, o esforço ideal para usabilidade de 2,3 pessoas ano, seria independente do tamanho do projeto. Estes resultados tem sentido se considerarmos que algumas atividades levam o mesmo tempo para serem realizadas independente do tamanho do projeto e da interface. Grandes sistemas podem ter mais elementos em suas interfaces (mais telas, caixas de diálogo, painéis de menu), o que significa que ele vai demandar mais tempo para atividades de usabilidade, mas não de forma proporcional a quantidade de elementos a mais. A conclusão é de que duas pessoas ano poderiam ser suficientes para a maior parte dos projetos. Estimativas mais precisas dependem das características dos projetos.

Em um estudo em diversas corporações, Wasserman (1989) constatou que muitas companhias alocavam de 4 a 6 % de sua equipe de P&D para atividades de usabilidade e de projeto de interfaces. Ele acredita que 2 % seja o limite crítico inferior para o projeto de produtos competitivos, mas reconhece que muitas companhias estão bem abaixo deste nível. Não há necessariamente conflito entre os dois estudos citados. O primeiro é mais recente, e a usabilidade tem crescido em importância nos últimos anos. Por outro lado, ele só envolveu projetos  no qual esforços com usabilidade foram efetivamente empregados.

O orçamento final para uma empresa ou produto vai depender, evidentemente, da natureza do projeto. Se o produto é destinado a uma grande população, então um esforço substancial com usabilidade será necessário para garantir sua ampla aceitação. Produtos que sejam usados cotidianamente em um escritório pode também justificar um investimento maior com usabilidade, com base nos benefícios decorrentes da economia de custos.

Ao considerar um orçamento para a usabilidade em sua empresa, lembre-se que sua interface será testada, mesmo que você não o faça. Seus usuários farão por você, enquanto lutarem para usar seu sistema. Problemas de usabilidade encontrados pelos usuários no terreno irão prejudicar sua reputação no mercado e as alterações necessárias irão custar cerca de 100 vezes mais do que o esforço para testar sua interface.

(Jakob Nielsen, Usabilty Engineering, Morgan Kaufmann, Inc. San Francisco, 1993)

 A engenharia de usabilidade propõe um conjunto de métodos , requerimentos , análises e soluções que forneçam um produto amigável para o contexto do usuário final.

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